Pastor declara tolerância zero a igrejas gays, a swing e prostituição.

Eles ficaram conhecidos como o “Taleban do Texas”. O grupo extremista cristão Repent Amarillo (Arrependa-se Amarillo) vem aterrorizando essa cidade no coração do Cinturão da Bíblia no Texas. Depois de traçar um “mapa de guerrilha espiritual” com todos os estabelecimentos “anticristãos” de Amarillo – bares gay, casas de swing e strip-tease, grupos pagãos, ciganas que leem mão, igrejas que aceitam gays, shows de heavy metal – eles foram atrás dos ímpios com cruzes de madeira, cartazes, alto-falantes, e muita intimidação. Já conseguiram fechar a casa de troca de casais Route 66 e o bar de strip-tease Crystal Pistol. E sua campanha de intimidação resultou na demissão de pelo menos dois “pecadores”, denunciados pelo Repent Amarillo para seus empregadores.

O “pastor” David Grisham, que trabalha como segurança em uma fábrica de armas nucleares, é o líder do Exército de Deus Repent Amarillo. “Eu era um fornicador e adúltero”, diz Grisham. “Mas agora estou expondo todos os pecadores, vamos recuperar nossa cidade para Jesus Cristo.”

O grupo começou a atuar no final de 2008, época em que o presidente Barack Obama foi eleito. “Nosso país está se afastando de Deus, estamos nos transformando em uma sociedade devassa e Obama é sintoma disso”, diz Grisham.

Em sua cruzada contra pecadores, David é acompanhado de Tracy Grisham, sua quarta mulher, também uma “ex-adúltera confessa”, que trabalha como técnica de raio X no hospital de Amarillo. “Big” John Leinen, o terceiro da hierarquia, era de uma gangue.

O Repent Amarillo ficou famoso quando liderou uma campanha de boicote à candidata à prefeitura de Houston Annise Parker. Perderam a batalha: Annise tornou-se a primeira lésbica assumida a governar uma grande cidade americana.

Mas eles conseguiram acabar com a vida de Monica e Mac Mead, donos do clube de swing Route 66. Monica é uma avó de 47 anos, casada há 12 anos com Mac, motorista de caminhão. Ela e o marido promoviam festas de troca de casais no Route 66. Eram todos moradores de Amarillo, caminhoneiros, taxistas, professoras primárias e donas de casa de meia idade.

Russell Grisham, filho de David de 20 anos que já foi condenado por pirataria na internet, postou nomes e fotos dos participantes do clube de swing. Eles anotaram as placas dos veículos de frequentadores e começaram a ligar para o local de trabalho das pessoas e denunciá-las. “O senhor sabia que o seu funcionário participa de um grupo de troca de casais?” Dois foram despedidos.

Exposição era tudo o que os frequentadores da casa de swing não queriam nesta cidade ultraconservadora. “Aqui, todo mundo é republicano, tem armas e não se anda dois quarteirões sem ver uma igreja”, diz a advogada Cristal Robinson. Em 2008, o republicano John McCain obteve quase 80% dos votos na região onde fica Amarillo, o Texas Panhandle. Aqui, uma das principais indústrias é “venda de fianças com desconto”, todo mundo fuma em tudo quanto é lugar e não se vende remédio de resfriado sem receita médica, porque os ingredientes são usados para fabricar a droga meta-anfetamina.

“Amarillo é uma cidade conservadora?”, perguntou o Estado ao taxista Ray Cushin. “De jeito nenhum, agora está cheio de casamento interracial, um absurdo. Um monte de mulher branca casando com negros.”

Revelação. Cristal é uma das poucas pessoas da cidade a defender abertamente as vítimas do Repent Amarillo e está processando o grupo por “arruinar a empresa” de Monica e Mac. A filha de Monica ficou sabendo do “estilo de vida” da mãe após o caso aparecer no noticiário local. Ela nunca mais falou com a mãe. Monica não vê seus quatro netos há mais de seis meses. “Minha vida tornou-se muito solitária”, disse Monica. Ninguém mais aluga o Route 66 para festas e ela declarou falência.

O Repent Amarillo animou-se com o fechamento do Route 66. “Era o troféu da imoralidade em Amarillo, que foi exposto e morreu”, disse Grisham. No ano passado, eles conseguiram impedir a exibição da peça Bent, sobre perseguição de homossexuais na Alemanha nazista. Na véspera da estreia, ligaram para os bombeiros e denunciaram a falta de uma licença no estabelecimento.

Em novembro, depois de muitos protestos em frente ao bar de strip-tease Crystal Pistol, denunciaram irregularidade na licença do estabelecimento, que foi fechado.

A polícia não faz nada, argumentando que o Repent Amarillo está exercendo seu direito à livre expressão. “A Primeira Emenda está viva em Amarillo”, diz Marcus Norris, secretário de Justiça da cidade. “Já defendi casos de Primeira Emenda, mas isso não é intimidação”, diz Cristal.

Diante do impasse, alguns moradores já pensam em formar milícias para defender-se. “Todo gay de Amarillo deveria ter uma arma, para se proteger”, diz Roy Rhyne, que trabalha no hospital batista, é gay e já foi assediado pelos extremistas.

Fonte: Estadão

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